quinta-feira, 29 de março de 2012

Guerra de Tróia: mito ou fato histórico?


A parte inicial deste vídeo ilustra a guerra de Tróia, na visão de Homero (Ilíada), explorada em várias obras da dramaturgia hollyhoodiana. Ao fundo, a voz marcante de Amelhinha, interpretando a música de Zé Ramalho "Mulher nova, bonita e carinhosa..."

Em sala de aula, procurei suscitar o debate, a partir dos seguintes questionamentos: A guerra de Tróia seria mais uma representação da mitologia grega ou um fato histórico realmente?  

Sabemos hoje que a descoberta de um sítio arqueológico na Turquia comprovou que este importante fato histórico da antiguidade realmente ocorreu. Porém, muitos aspectos entre mitologia e história ainda se confundem. E esse conflito teria sido motivado mesmo por causa de Helena ou pelo fato de Tróia ser, naquele contexto, uma cidade estratégica e importante economicamente?

MULHER NOVA, BONITA E CARINHOSA (...)
Zé Ramalho

Numa luta de gregos e troianos

Por Helena, a mulher de Menelau
Conta a história de um cavalo de pau
Terminava uma guerra de dez anos
Menelau, o maior dos espartanos
Venceu Páris, o grande sedutor
Humilhando a família de Heitor
Em defesa da honra caprichosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor

Alexandre figura desumana
Fundador da famosa Alexandria
Conquistava na Grécia e destruía
Quase toda a população Tebana
A beleza atrativa de Roxana
Dominava o maior conquistador
E depois de vencê-la, o vencedor
Entregou-se à pagã mais que formosa
Mulher nova bonita e carinhosa
Faz um homem gemer sem sentir dor

A mulher tem na face dois brilhantes

Condutores fiéis do seu destino
Quem não ama o sorriso feminino
Desconhece a poesia de Cervantes
A bravura dos grandes navegantes
Enfrentando a procela em seu furor
Se não fosse a mulher mimosa flor
A história seria mentirosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor
(...)

quarta-feira, 21 de março de 2012

Ministério vai ampliar Provinha Brasil para, a partir de 2013, analisar desempenho de todos estudantes aos 7 e aos 8 anos de idade

Notícia: O Estado de São Paulo, de 19/03/2012. Para discussão em sala.
MEC anuncia avaliação nacional da alfabetização

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anunciou na tarde desta segunda-feira a criação de uma prova nacional para medir o grau de alfabetização de crianças de 7 e de 8 anos. O exame, que será aplicado para todos os estudantes a partir do ano que vem, será uma ampliação da Provinha Brasil, que avalia o estágio de alfabetização e de conhecimentos básicos de matemática de estudantes do 2º ano do ensino fundamental. “A Provinha Brasil é amostral. Nós faremos um exame nacional para ver a qualidade do letramento”, disse Mercadante, que participou de um debate promovido pelo Lide, Grupo de Líderes Empresariais, na zona sul de São Paulo.


No evento, o ministro disse que a garantia de alfabetização na idade correta, até 8 anos, é a grande prioridade da sua gestão. “O exame será para todas as crianças. Tem custo? Tem. Mas é muito menor que o da ignorância.” Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O ministro disse que professores com desempenho excepcional podem ganhar bolsas de estudo no exterior. “Já recebemos uma proposta da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e estamos discutindo com secretários de Educação, porque isso tem de ser feito em parceria. Quem administra a rede são Estados e municípios”, disse Mercadante. “Estamos chamando os secretários para participar do desenho do programa, da modelagem. Na quinta-feira haverá uma oficina dos secretários para que em conjunto a gente consiga fechar a proposta.”


Mercadante quer usar o desempenho dos estudantes no exame de alfabetização no Escola Sem Fronteiras, programa que vai oferecer bolsas de estudo em colégios privados de referência, como o Pedro II, do Rio, para professores cujos alunos de destacaram na avaliação. O outro indicador para selecionar professores do Escola Sem Fronteiras será o desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O ministro disse que professores com desempenho excepcional podem ganhar bolsas de estudo no exterior. “Já recebemos uma proposta da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e estamos discutindo com secretários de Educação, porque isso tem de ser feito em parceria. Quem administra a rede são Estados e municípios”, disse Mercadante. “Estamos chamando os secretários para participar do desenho do programa, da modelagem. Na quinta-feira haverá uma oficina dos secretários para que em conjunto a gente consiga fechar a proposta.”

segunda-feira, 12 de março de 2012

Psicogênese da Língua Escrita - Orientações para pesquisa com crianças (Disciplina: ALFABETIZAÇÃO)

COLETA DE DADOS COM CRIANÇAS NOS NÍVEIS PRÉ-SILÁBICO E SILÁBICO


1. Apresentar um cartão com letras, números e outros sinais gráficos (Ex. H LO% 4 $TS @ 9 * & Ç #) e pedir que a criança fale o que acha que tem escrito. Caso ela indique alguma palavra que esteja ali escrita, peça que faça a leitura acompanhando com o dedo.

2. Apresentar outro cartão com a gravura de um objeto, animal ou outro elemento qualquer que seja conhecido pela criança. Abaixo devem estar registrados letras, números e sinais gráficos e novamente peça que a criança fale o que tem ali escrito.

3. Preparar uma lista de palavras (brinquedos, frutas, material escolar, partes do corpo etc), de modo que nesta lista tenha palavras monossílabas, dissílabas, trissílabas e polissílabas. Ditar uma a uma para que a criança escreva. Dentre as palavras escolhidas deve conter uma ou mais de uma que possibilite o conflito da criança em relação à quantidade mínima de letras (Ex: rã, pé, giz)

4. A cada palavra ditada, pedir que a criança faça a leitura, acompanhando com o dedo. Observar bem a forma como a criança faz a leitura. Isso é determinante para identificação do nível de escrita.

5. Inserir também uma que tenha repetição de letras, para testar a hipótese da variedade de caracteres (Ex. banana, papai, coco). Estas palavras não precisam necessariamente fazer parte do grupo semântico escolhido.

6. Ditar uma frase para que a criança escreva.

7. Por último, apresentar uma folha com uma gravura qualquer, que não tenha relação com a frase que estará escrita logo abaixo. (Ex. Gravura: um homem – Frase: O meu cachorro é brincalhão). Pedir para que a criança leia. Caso ela faça a leitura global, pedir que repita a leitura, agora com o auxílio do dedo.

Observação importante: As pesquisadoras devem, o tempo todo, fazer indagações, principalmente em relação às situações conflituosas apresentadas.

Ex. Está sobrando letras?

O que você vai fazer com essas letras que estão sobrando?

Não está faltando letra aí nessa palavra?



NÍVEIS SILÁBICO-ALFABÉTICO E ALFABÉTICO

1. Eleger uma lista de palavras trissílabas ou polissílabas (brinquedos, frutas, material escolar, partes do corpo etc). Ditar uma a uma para que a criança escreva.

2. A cada palavra ditada, pedir que a criança faça a leitura, acompanhando com o dedo.

3. Ditar duas frases, contendo algumas das palavras ditadas anteriormente.

4. Pedir que a criança escreva livremente uma frase...o que ela quiser escrever.

5. Ditar um pequeno texto (Máximo de 04 linhas para crianças no nível silábico-alfabético e máximo de 08 para crianças alfabéticas)

6. Pedir que a criança leia. Testar o nível de compreensão: perguntar do que trata o texto. Pedir que fale o que entendeu do que escreveu.

Obs: As pesquisadoras devem o tempo todo fazer indagações, principalmente em relação às situações conflituosas apresentadas.

Ex. A palavra está toda aí? Não está faltando letras?

Caso demonstre dificuldade na interpretação, instigar: quem são os personagens do texto? Como ele começa? Como termina?
Receita de Alfabetização*



"Pegue uma criança de seis anos e lave-a bem. Enxugue-a com cuidado e envolva-a num uniforme, colocando-a sentadinha numa sala de aula. Nas oito primeiras semanas, alimenta-a com exercícios de prontidão. Na nona semana, ponha uma cartilha nas mãos da criança, mas tome cuidado para que ela não se contamine no contato com os livros, jornais, revistas e outros perigosos materiais impressos. Abra a boca da criança e faça com que ela engula as vogais. Quando as tiver digerido, mande-a mastigar, uma a uma, as palavrinhas da cartilha. Cada palavra deve ser mastigada no mínimo sessenta vezes, como na alimentação macrobiótica. Se houver dificuldade para engolir, separe as palavras em pedacinhos. Mantenha a criança em banho-maria durante quatro meses, fazendo exercícios de cópia. Em seguida, faça com que ela ingira algumas frases inteiras. Mexa com cuidado para não embolar.

Ao fim do oitavo mês, espete a criança com um palito, ou melhor, aplique uma prova de leitura e verifique se ela devolve pelo menos, 70% das palavras e frases engolidas. Se isto acontecer, considere a criança alfabetizada. Enrole-a num bonito papel de presente e despache-a para série seguinte.

Se a criança não devolver o que lhe foi dado para engolir, recomece a receita desde o início, isto é, volte aos exercícios de prontidão. Repita a receita quantas vezes forem necessárias. Ao fim de três anos, embrulhe a criança em papel pardo e coloque um rótulo: aluno renitente".


Alfabetização Sem Receita

Pegue uma criança de seis anos, ou mais, no estado em que estiver, suja ou limpa e coloque-a numa sala de aula, onde existam muitas coisas escritas para olhar e examinar. Serve jornais velhos, revistas, embalagens, propaganda eleitoral, latas de óleo vazias, caixas de sabão, sacolas de supermercado, enfim, tudo o que estiver entulhando os armários da escola e da sua casa. Convide a criança para brincar de ler, adivinhando o que está escrito: você vai descobrir que ela já sabe muitas coisas, muitas hipóteses.

Converse com a criança, troque idéias sobre quem são vocês e as coisas de que gostam e não gostam. Escreva no quadro algumas das coisas que foram ditas e leia para ela. Deixe a criança recortar letras, palavras e frases dos jornais velhos e não esqueça de manda-la limpar o chão depois para não criar problemas na escola. Todos os dias leia em voz alta para a criança, alguma coisa interessante: historinha, poesia, notícia de jornal, anedota, letra de música, adivinhação. Mostre para a criança alguns tipos de elementos escritos que, talvez, ela não conheça: um catálogo de telefone, um dicionário, um telegrama, uma carta, um bilhete, um livro de receitas de cozinha.

Desafie a criança a pensar sobre a escrita e pense, você também. Quando a criança estiver tentando escrever, deixe-a perguntar ou ajudar o colega. Não se apavore se a criança estiver comendo letras: até hoje, não houve caso de indigestão alfabética. Acalme a diretora e a supervisora, se elas ficarem alarmadas.

Invente sua própria cartilha. Use a sua imaginação e sua capacidade de observação para ensinar a ler. Leia e estude você também

*Marlene Carvalho

Texto-suporte para a disciplina de ALFABETIZAÇÃO

Como ensinar as irregularidades ortográficas (Revista Nova Escola)


A ausência de regras ortográficas para algumas palavras faz com que as crianças (e muitos adultos) tenham dúvidas sobre como escrevê-las. A consulta ao dicionário e a produção de cartazes ajudam a turma a aprender como usar as grafias corretas com segurança (Camila Monroe)

"O omem saiu de caza e foi pacear de ônibus pela sidade." Essa frase, cheia de erros ortográficos, causa estranhamento para muitas pessoas, mas certamente não para você, professor. Muitos alunos já escreveram coisas parecidas, não?

Mesmo trabalhando as regras de ortografia, como as que determinam o uso de R e RR, a turma continua grafando alguns termos de maneira equivocada. Natural. A Língua Portuguesa tem muitas palavras que não obedecem a nenhuma regra.

A regularidade existe quando é possível prever a escrita de um termo sem nunca tê-lo visto graças a normas que se aplicam a todos ou a muitos casos - como ocorre com o uso do R em "carro". Já os termos irregulares - definição de Artur Gomes de Morais, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no livro Ortografia: Ensinar e Aprender - têm sua escrita justificada apenas pela tradição do uso ou pela origem das palavras. É o caso de "passear" e "casa", que aparecem no início desta reportagem, e de outras mais, como os casos a seguir:

- Som de S: Seguro, cidade, auxílio, cassino, piscina, cresça, giz, força e exceto.
- Som de G: Girafa, jiló, geração e jeito.
- Som de Z: Zebra, casa e exercício.
- Som de X: Enxada e enchente.
- H inicial: Hora, homem e hino.

- Com disputa entre E e I e O e U em sílabas átonas que não estão no fim: Violino (que pode ser confundida com veolino), seguro (siguro), bonito (bunito) e tamborim (tamburim).

- Com disputa do L com o LH diante de certos ditongos: Julho (que pode ser confundida com julio), família (familha) e toalha (toália).

- Com alguns ditongos da escrita, que modificam a pronúncia: Caixa (que pode ser confundida com caxa), madeira (madera) e vassoura (vassora). Com a aprovação da Nova Reforma Ortográfica, que entrou em vigor em 2009, novas dificuldades surgiram. A exclusão do trema e do acento agudo em alguns casos, por exemplo, pode confundir quem está aprendendo a escrever. "As crianças vão questionar, por exemplo, por que 'frequente' é falado de um jeito e 'quente' de outro, mesmo ambas tendo a mesma grafia. Para aprender a forma correta, elas terão de memorizar", explica Beth Salum, doutora em Filologia em Língua Portuguesa e professora da Universidade de São Paulo (USP).

Para ajudar a turma em tarefas como essas, nem pense em solicitar que escrevam repetidamente uma lista de palavras. Também não adianta planejar ditados - eles são úteis para avaliar o que está sendo aprendido, não para ensinar algo que ainda não se sabe. Existem duas atividades permanentes específicas para explorar bem a questão das irregularidades com os estudantes e ensiná-los a escrever com segurança e autonomia:

CONSULTA AO DICIONÁRIO: Oportunidade para os alunos que já conhecem a ordem das letras no alfabeto compreenderem como o material é útil para informar a grafia correta das palavras e também para aprenderem a consultá-lo mesmo sem saber como se escreve determinado termo. Nessa atividade, o importante é a frequência de propostas. Quando as crianças buscarem por "omem" e não encontrarem, provavelmente dirão que a palavra não existe no dicionário. "Esse é o momento para o professor perguntar de que forma os colegas procuraram o termo e se aquela é a única sugestão de como ele pode ser escrito", diz José Carvalho, professor do curso de Letras da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Esse foi o procedimento adotado por Luciene Carvalho Andrade, professora do 3º ano da EM Martha Drummond Fonseca, em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. "Fiz o mapeamento ortográfico levantando as palavras que eram grafadas de forma errada e pedi que a classe as buscasse no dicionário. Conforme a procura era feita, discutíamos as possibilidades de escritas até encontrá-las", diz Luciene.

Outra possibilidade é a consulta aos dicionários eletrônicos ou online. Eles oferecem sugestões de correção para a maioria das palavras digitadas equivocadamente. Essa facilidade não invalida o trabalho em sala. Sua missão nesse caso é fazer com que os estudantes percebam o erro e ganhem agilidade. Além disso, muitos oferecem a origem etimológica dos termos buscados, o que, na maioria das vezes, ajuda a compreensão da grafia convencional.

ELABORAÇÃO DE CARTAZ

Momento de organizar um material de consulta com palavras irregulares recorrentes. É uma ferramenta útil para memorizar e para firmar combinados com os alunos sobre quais erros não podem aparecer mais nas produções deles a partir de certo momento.
A organização das palavras pode ser feita de várias maneiras. "É possível elencar em ordem alfabética ou separá-las em categorias, como animais e cores", diz Luiz Cagliari, professor da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp).
Edivânia de Souza, professora do 3º ano na Escola Projeto Vida, em São Paulo, ajudou os alunos a elaborar esse recurso de acordo com o tipo de irregularidade. "À medida que eles reconheciam termos que fugiam às regras, registravam no cartaz. Ficou claro que o H inicial ocorria somente em alguns casos e que eles tinham de ser memorizados", ela diz.

UM POUCO DE TEORIA

Por que homem se escreve com H. A palavra vem do latim hominem e, por uma questão de tradição, o H se mantém.

Por que família termina em "lia" e quadrilha em "lha"

Família vem do latim familia. Já a grafia de quadrilha tem influência do espanhol, em que o termo era escrito quadrilla. Por ter o som parecido com LH, a leitura foi transferida para a grafia em português.

Por que jeito é grafado com J e gente com G

Jeito vem do latim iactus (ou jactus), mas também já foi escrito com G. Reformas ortográficas modernas fixaram a grafia com J. A palavra gente vem do latim gentem.

Por que passeio é grafado com SS e não COM C, como parceiro

Passeio vem do latim passus e manteve o SS. Já a palavra parceiro vem do latim partiarium e no século 14 era traduzida como parçaria. Com o tempo, o termo se modernizou até virar parceria.

(Consultoria Luiz Carlos Cagliairi)