quarta-feira, 18 de maio de 2011

Para polemizar é imprescindível se fundamentar!!!!

Desde segunda-feira está sendo veiculada na mídia uma verdadeira polêmica sobre o livro didático "Por uma Vida Melhor", distribuído pelo MEC para a Educação de Jovens e Adultos. Até Boris Casoi, visivelmente sem nenhum embasamento teórico sobre o assunto, se achou no direito de comentar e criticar a obra.

Para Marcos Bagno, linguista brasileiro de maior destaque na atualidade, os meios de comunicação criaram uma falsa polêmica. Bagno afirma que a discussão sobre preconceito linguístico ocupa apenas 2% da obra e que nos outros 98%, o que se faz é ensinar as normas cultas de prestígio. Para o autor, discutir preconceito linguístico na escola é fundamental para se criar um ambiente mais acolhedor e próximo da vida real.

No seu site Bagno publicou:

"Para surpresa de ninguém, a coisa se repetiu. A grande imprensa brasileira mais uma vez exibiu sua ampla e larga ignorância a respeito do que se faz hoje no mundo acadêmico e no universo da educação no campo do ensino de língua. Jornalistas desinformados abrem um livro didático, leem metade de meia página e saem falando coisas que depõem sempre muito mais contra eles mesmos do que eles mesmos pensam (se é que pensam nisso, prepotentemente convencidos que são, quase todos, de que detêm o absoluto poder da informação).
Polêmica? Por que polêmica, meus senhores e minhas senhoras?"

Thaís Nicoleti de Camargo, consultora de Língua Portuguesa do grupo Folha e UOL, em matéria publicada hoje na Folha de São Paulo, diz que essa polêmica provocada pela imprensa nasce da defasagem entre a visão do ensino da língua materna cultivada pelo senso comum e uma pedagogia desenvolvida com base na Linguística.

Camargo afirma:

"Na condição de ciência, a linguística tem por objetivo descrever a língua, não prescrever formas de realização. O trabalho do linguista passa ao largo dos frágeis conceitos de "certo" e "errado". É fato, porém, que, para os leigos no assunto, o estudo da língua parece se resumir exatamente a esses conceitos. A pedagogia que orienta a obra afronta, portanto, o senso comum, que se expressa no temor de que a escola vá passar a ensinar o "errado". A ideia é mostrar que mesmo realizações sintáticas como "os livro" ou "nós pega" têm uma gramática, que, embora diversa da que sustenta a norma de prestígio social, constitui um sistema introjetado por um vasto grupo social - daí ser possível falar em variante linguística. Embora goze de maior prestígio social, a norma culta é apenas uma das variantes, não a própria língua. A visão distorcida do fenômeno linguístico municia o preconceito linguístico, manifesto na inferiorização social daqueles que não dominam os recursos da variante culta. Cabe a uma pedagogia preocupada em promover a inclusão tratar desse tipo de questão e fomentar entre os estudantes o respeito à forma de expressão de cada um. Isso não significa, porém, deixar de ensinar a norma culta, que é o código de mediação necessário numa sociedade complexa e um meio de acesso às referências literárias e culturais que constituem a nossa tradição e reforçam a nossa identidade".

Pois é gente, para polemizar é imprescindível se fundamentar!!!!


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